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segunda-feira, março 12, 2012

Como fazer um empreendedor? O papel dos valores sociais e sentimentos

As empresas de hoje procuram no mercado indivíduos capazes de criar empresas e desenvolver negócios, numa palavra, quem seja capaz de empreender. Este perfil tem associado as ideias de capacidade de empenho num projecto, de assumpção de responsabilidades e mesmo de correr riscos. Estas são as características que se associam à figura do “Empreendedor”, sendo que este toma muitas vezes decisões de forma intuitiva, isto é, sem que seja claro o resultado económico daí decorrente.
A tomada de decisão empresarial não é uma tarefa fácil. Tenha-se presente que mais de 70% das empresas criadas vão à falência nos três primeiros anos de vida. A empresa recém-formada confrontar-se-á com a ausência de um histórico de vendas e a falta de reconhecimento por parte do cliente. Está assim em desvantagem face às empresas implantadas no mercado. Resta-lhe, por isso, tirar partido dos poucos dados de que dispõe (conjuntura económica, vendas dos concorrentes). Nestas circunstâncias, o Empreendedor tem de agir de forma intuitiva, isto é, sem poder suportar-se em estudos robustos.
A importância da intuição está ligada à de percepção. Considere-se um “puzzle” onde tudo parece encaixar-se. Neste contexto, o Empreendedor é alguém que, descartando uma aproximação analítica, acaba por descobrir que, afinal, falta uma peça. Também pode ser colocado na posição de alguém que “pensa fora da caixa”.
A iniciativa empresarial suporta-se num certo quadro emocional, com expressão no sentimento de confiança e na crença de capacidade de sobreviver no mercado que informam a acção do Empreendedor. O caminho seguido por este reflecte os seus valores, sentido de responsabilidade, desejo de autonomia e nível de tolerância ao risco, e optimismo.
Estes valores e sentimentos influenciam de forma diferente cada grupo social. Na minha tese de Mestrado, supervisionada pelo Professor Pedro Pita Barros, conclui que, em Portugal, o Empreendedor é orientado para tomadas de decisão intuitivas quando a sua avaliação dos valores sociais e relações emocionais estão acima das presentes noutros grupos.
Isto liga-se com o porquê das empresas procurarem desenvolver uma identidade emocional e culturas próprias, o que as leva a fazer testes de personalidade aquando do recrutamento de colaboradores. Identificar que perfis se conectam melhor com os existentes é uma componente da estratégia das organizações. No caso daqueles sujeitos que escolhem trabalhar de forma independente, a sua acção é também influenciada pelo respectivo perfil emocional, o qual decorre da respectiva inserção social e características psico-sociais. Estes atributos condicioná-los-ão nas suas tomadas de decisão.
Daqui decorre que as instituições que apoiam os Empreendedores deverão ser capazes de lhes fornecer ferramentas apropriadas para o desenvolvimento dos seus negócios. A decisão intuitiva do Empreendedor, mediada pelos recursos de que possa dispor, funcionará melhor se for apoiada por informação que lhe permita posicionar-se melhor no mercado (sector de actividade, tipo de produto, faixa etária do cliente, etc.).
É também desejável que as instituições sociais, o estado e a população em geral sejam capazes de oferecer aos mais novos condições para que eles se sintam orgulhosos dos seus feitos e ambicionem chegar mais longe. Por outro lado, é necessário que sejam levados a não temer o fracasso e que sejam capazes de confiar nos outros (de acordo com o Global Entrepreneurship Monitor, Portugal é dos países onde menos o Empreendedor cria relações de negócio com pessoas fora do seu circulo íntimo). No longo prazo, tanto o apoio das instituições como o da sociedade podem dar frutos em matéria de perfil emocional do Empreendedor.

José Pedro Cadima

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