Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

sábado, setembro 13, 2008

Factos, intenções e marketing político

Revista EXAME – resposta a questão da jornalista Sónia Lourenço (sonial@edimpresa.pt), datada de 08/08/29
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P: Se o Governo tem vindo a anunciar tantos projectos de investimento directo estrangeiro (IDE) em Portugal, porque é que o IDE caiu para menos de metade em 2007 face a 2006?

R: Quando falamos de IDE estamos a referir-nos a uma realidade complexa, que considera desde aplicações na indústria a outras nos serviços. Vem de 2007 a alteração das expectativas da economia americana e, em menor grau, da europeia, e a convicção de que a economia portuguesa manter-se-ia com um fraco desempenho. A esta luz, não tem que surpreender a fraca captação de IDE revelada. Os anúncios do governo são coisa distinta, confrontado que está com a letargia da economia e a necessidade de apresentar resultados no horizonte das eleições de 2009. Se o seu discurso deve ser parte no processo de alteração das expectativas, por outro lado, pintar cor-de-rosa o cenário é uma tentação, até para iludir a responsabilidade que tem.
Não é algo novo multiplicar anúncios de sucesso, seja na captação de IDE ou noutra vertente qualquer. Anúncios sempre se podem fazer sem fugir muito à verdade, até porque, numa decisão de investimento, uma coisa é o momento da negociação das contrapartidas públicas e outra o do investimento. Concluindo: as duas dimensões questionadas dificilmente têm correlação. Uma são factos e outra são intenções e marketing político.

J. Cadima Ribeiro
(Professor de Economia)
jcadima@eeg.uminho.pt

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