Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

terça-feira, maio 20, 2008

Economia galega: evolução e perspectivas

A situação da economia da Galiza é de notória importância para a população e os decisores políticos Portugueses, especialmente para os do Norte Litoral. Essa relevância deriva da crescente inter-relação entre ambas as economias, traduzida numa significativa capacidade de absorção recíproca, tanto de produções como de factor trabalho. A exportação de dinâmica económica a determinados territórios do Norte resulta do intenso crescimento do produto na Galiza, que atingiu, nos últimos três anos, taxas na ordem dos quatro por cento.
Apesar dos resultados extremamente positivos do último quinquénio, os dados de conjuntura indicam uma rápida desaceleração da actividade no primeiro trimestre de 2008, em linha com o que acontece no resto de Espanha e noutras economias Europeias. Em termos sectoriais observa-se uma forte quebra da actividade do sector secundário e no da construção civil, ainda que neste último a diminuição da actividade não foi tão intensa como no resto de Espanha. A taxa de desemprego no final de 2007 era de 7,5%, 1,1 ponto inferior à média espanhola, embora as previsões apontem para um incremento do número de desempregados nos próximos trimestres, nomeadamente nos dois sectores anteriormente indicados, e no sector serviços, ainda que a evolução da destruição de emprego nesse âmbito seja mais difícil de antecipar. Relativamente aos preços, a taxa de inflação inter-anual no final de 2007 foi de 4,1%, tendo-se verificado uma intensificação do crescimento dos preços a partir do mês de Agosto. As taxas inter-anuais dos meses que levamos de 2008 são ainda superiores, ainda que, em grande medida, esses aumentos se devam à evolução do preço do petróleo e à denominada inflação importada.
O Índice de Confiança dos Consumidores e os resultados do Inquérito de Conjuntura Industrial oferecem sinais evidentes do sentimento pessimista dos agentes económicos relativamente à evolução da actividade económica no curto e no médio prazo. A recuperação da confiança na economia precisa, tanto no caso da Galiza como no de outras economias, como a Portuguesa, da clarificação de uma série de acontecimentos internacionais escassamente previsíveis e da intervenção pública através de um conjunto de políticas tanto macro como microeconómicas.
Os principais acontecimentos de alcance global anteriormente indicados associam-se à crise financeira internacional e à evolução recente de determinados mercados de matérias-primas. A crise do mercado hipotecário subprime dos Estados Unidos transformou-se em poucos meses numa crise de crédito e de liquidez que tem provocado grandes desajustamentos no sistema financeiro internacional. As restrições das condições de acesso ao crédito, derivadas desses desajustamentos sobre o sistema financeiro, estão a ter já consequências negativas sobre os níveis de procura e consumo. O incremento do preço da maior parte das matérias primas, nomeadamente dos produtos alimentares (cereais), do petróleo e dos minerais para usos industriais, está a criar fortes desequilíbrios a nível internacional com consequências de difícil previsão sobre o PIB mundial e, mais concretamente, sobre o funcionamento de determinados mercados. Economias como a galega são extremamente vulneráveis a este tipo de fenómenos, por um lado, porque o crescimento económico dos últimos anos foi acompanhado de um incremento dos níveis de endividamento das famílias, sobretudo pelo forte incremento dos preços da habitação e, por outro, pelo alto grau de dependência energética e o pouco peso dos cereais na produção agrícola da Galiza.
Este tipo de problemáticas justifica a intervenção dos reguladores; num caso para melhorar os mecanismos de regulação e fiscalização e incrementar a transparência, e noutro, para implementar políticas que travem os crescentes níveis de especulação nos mercados de matérias-primas e para pôr em prática medidas que permitam avaliar o uso alternativo de certas produções agrícolas de modo mais consistente. A outro nível as autoridades nacionais e regionais devem intervir para combater os pontos fracos das economias do seu contexto de intervenção. No caso da Galiza as políticas a nível microeconómico devem destinar-se a definir sectores estratégicos de futuro, a incrementar o valor acrescentado das produções, a reduzir a dependência sectorial das exportações, e a promover a I&D e a qualificação dos trabalhadores.
Apesar de as receitas anteriores serem amplamente conhecidas, não tem existido uma acção planificada que permita estabelecer objectivos e medir o seu grau de desempenho. Neste sentido, convém referir que o governo galego prevê apresentar brevemente o denominado Plano de Competitividade 2008-2011, que visa alterar o modelo produtivo da economia da Galiza. O Plano contém cinco eixos fundamentais: desenvolvimento e modernização empresarial, demografia, inovação, infra-estruturas e eficiência da Administração Pública, e dedica uma especial atenção à inovação, nomeadamente ao desenvolvimento do sistema galego de I&D e à promoção da inovação no sector privado.
É evidente que os fenómenos económicos internacionais continuarão a afectar as economias locais, ainda que a intensidade do impacto dependa muito da sua estrutura económica e da oportunidade das políticas públicas escolhidas. Na actual conjuntura, a economia galega não está suficientemente preparada para minimizar o impacto da actual desaceleração internacional, mas a implementação de políticas públicas inteligentes pode contribuir no futuro para mitigar parcialmente os efeitos indesejáveis desses fenómenos de alcance global.
FRANCISCO CARBALLO-CRUZ

(artigo de opinião publicado na edição de hoje do Suplemento de Economia do Diário do Minho, em coluna regular intitulada "Desde a Gallaecia")

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