Espaço de debate de temas de Economia Portuguesa e de outros que com esta se relacionam, numa perspectiva de desenvolvimento

terça-feira, março 13, 2007

"Desenvolvimento e assimetrias sócio-espaciais: perspectivas teóricas e estudos de caso" - V

«Apresentação pública do livro
“Desenvolvimento e assimetrias sócio-espaciais: perspectivas teóricas e estudos de caso”, Manuel Carlos Silva, Ana Paula Marques e Rosa Cabecinhas (Orgs.), edição do Núcleo de Estudos em Sociologia, Universidade do Minho, e da Editora Inovação à Leitura, Braga, 2005(?).
[...]

3. Os destaques deste leitor
3.3. O terceiro tópico que queria endereçar de forma específica é a regionalização, introduzida fugidiamente por Miguel Melo Bandeira no seu texto (p.155). Escreve aquele:
- “[…] o nosso interesse […] remonta ao tempo em que o debate sobre a regionalização […] se reconhecia ainda pela supremacia da racionalidade teórico/técnica sobre o da pragmática político/partidária. Pelo contrário, hoje em dia […] a temática perdeu muito do seu brilho e alcance político real, entre outras razões incontornáveis, por se ter subestimado a sua dimensão cívica, em resultado do qual o debate se circunscreveu ao âmbito redutor da conflitualidade formal político-partidária. […]. Fatalidades de uma democracia que já dá sinais de envelhecimento precoce?!”. Questiona Miguel Bandeira, a rematar a sua reflexão.
Eu acrescentaria: Pois!!!

Retenho este tema porque ele se prende estreitamente com a nova abordagem ao desenvolvimento dos territórios que menciono alguns parágrafos atrás. Dessa visão, sublinhem-se as seguintes ideias estruturadoras:
i) “o sistema produtivo dos países cresce e transforma-se utilizando o potencial de desenvolvimento existente nos territórios”;
ii) “para que a realização das tarefas ou actividades se desenvolva a um nível elevado de eficiência, é crucial que os territórios disponham de competências;
iii) “são as competências para tirar partido da dotação existente em recursos produtivos que constituem a origem da vantagem competitiva dos territórios.”
Se assim é, resta dizer que entre os recursos dos territórios também se incluem os recursos de natureza institucional (governos locais e regionais; base associativa empresarial e social, câmaras de comércio, etc.) e as competências, quer dizer, a capacidade de tirar partido da malha institucional, existente e a desenvolver, para concretizar um desempenho “a um nível elevado de eficiência”.
É a esta luz que é necessário que se entenda que o económico, o cultural, o institucional são tudo peças do mesmo projecto visando o desenvolvimento das regiões, dos territórios, ainda que o exercício político autónomo local e regional não fossem afirmações não-negociáveis de democracia e de cidadania.
Por isso, quando recentemente um responsável político regional minhoto, de primeira linha, me questionou sobre por onde começar na construção de uma resposta aos problemas de desenvolvimento com que a região se confronta, eu não tenha hesitado em apontar-lhe a esfera política, melhor dizendo, a aposta na criação de uma liderança clara, a partir do sentimento de comunidade.

4. Concluindo: a certeza de valer a pena o debate e o questionamento das coisas.
Concluo, que já vou longo - mesmo que esteja consciente de não ter feito justiça ao valor acrescentado que a obra trás para o debate do tema que se propôs tratar e, muito menos, aos autores dos textos que a integram. Concluo, digo, recuperando o sublinhado já deixado de que estamos perante uma colectânea de textos que merece interesse, seja pela variedade de objectos analíticos e de áreas científicas que acolhe e, seja pela coerência e complementaridade dos contributos. Numa obra desta natureza, tem, obviamente que perceber-se e aceitar-se que uns textos e reflexões se apresentem mais consolidados que outros.
Se vos posso dizer alguma coisa sobre que esteja seguro, remato com a certeza de valer a pena o debate e o questionamento das coisas, para o qual este livro dá um modesto mas valioso contributo.

J. Cadima Ribeiro
(extracto final de texto produzido no contexto que fica explicitado no cabeçalho)

Sem comentários: